Crítica | Ghostbusters: o império de gelo

Existe uma máxima no mundo do cinema, e que na maioria das vezes é certeira, de que um filme deve ensinar como expectador deve se preparar para a experiência logo em seus primeiros minutos de tela. Ou seja, as primeiras cenas de um longa possibilitam antecipar o tom, o tempo e o estilo da narrativa. Sendo assim, o que Ghostbusters: O Império de Gelo nos entrega logo em sua abertura é um retrato perfeito do que o filme será do logo inicial até os créditos; uma obra sem carisma, completamente desnorteada, genérica e, por mais que tente ser dinâmica, entediante.

Apelar para a nostalgia não é nenhuma novidade no planejamento de Hollywood, e é por isso que muito se fala sobre com a indústria está há anos se apoiando na cultura do remake, onde o novo, aquela produção desgarrada de uma franquia já estabelecida, é minoritária. O interesse é a reciclagem e a atualização de antigos ícones da cultura pop, o que às vezes resulta numa imagem sem alma, nem propósito. Mas nem tudo é ruim. Nessa leva, sempre há um ou outro filme que se sobressai, como as reimaginações inteligentes que trazem algum frescor e se propõe a atualizar o público. No entanto, esse definitivamente não é o caso de Ghostbusters.

Tentando reviver uma nostalgia barata, o filme insere personagens clássicos, objetos icônicos, mas tropeça numa direção sem carisma que se leva a sério demais para uma obra que tem bases tão frágeis.

Logo na sequência inicial, quando somos apresentados ao objeto amaldiçoado que guarda uma entidade maligna, revivemos inúmeras outras aberturas como aquela, afinal, a estrutura já foi usada a exaustão. Embora os primeiros minutos já antecipem a falta de criatividade, esse ainda não é o problema irremediável, já que uma direção segura e uma boa construção da forma fílmica conseguiriam valorizar qualquer superficialidade da trama.

O que encontramos adiante, durante quase duas horas, não é mais do que um emaranhado de personagens que não possuem tempo de tela e parecem aparições especiais numa série de comédia para televisão. A trama tenta fazer um malabarismo com tantas figuras em tela, mas não consegue.

E o “coração do filme”, que supostamente é o sentimento de rejeição experimentado pela personagem da Mckenna Grace, é escrito e interpretado de tal maneira que não justifica a conexão que o filme espera que o público desenvolva. A atriz é constantemente prejudicada por diálogos constrangedores e frases de efeito que quebram a cena, e evidenciam um texto mal desenvolvido. Vale a pena lembrar de que o conteúdo raso não é um problema na dramaturgia, afinal, também é possível criar uma boa história sem profundidade. O problema é quando o próprio enredo acredita estar se fazendo um mergulho profundo na psiquê da personagem, quando, na verdade, transforma ela num aglomerado de frases-feitas para demonstrar uma pseudo-inteligência que nunca se adere à trama.

Além disso, ao longo do enredo, inúmeras personagens traem a própria composição em prol dos eventos do filme, o que novamente rompe o pacto com o expectador. Quem é meticuloso, de repente age sem o menor cuidado. Quem é inteligente, de repente, se torna incapaz de fazer uma sinapse. E nada disso é compensado, porque o clímax apresenta uma entidade visualmente genérica, sem apelo ou dimensão de risco.

No final das contas, por mais que tente se agarrar aos “bons tempos” da franquia, nem mesmo a nostalgia consegue manter o filme de pé.

Deixe um comentário