Duna: Parte 2 | Um épico árido

Por João Mendes

Imagem de divulgação do filme “Duna: Parte 2”

Como um fã da obra do Frank Herbert, não consegui evitar o ânimo quando fiquei sabendo que uma adaptação de Duna estava no forno.

E, assim como a maioria das pessoas que assistiram o primeiro filme lá em 2021, também estava curioso para saber o desfecho da obra, já que a primeira parte terminava com um ar de filme interrompido. Por sorte, o desfecho chegou.

O encerramento de Duna do Villeneuve é um épico com todas as letras. Encontramos aqui uma narrativa longa que vai armando pequenos conflitos até que tudo seja confrontado em cenas grandiosas. Acompanhamos o amadurecimento conturbado do protagonista, Paul Atreides, ao ser uma peça diante de algo muito maior do que ele, e que vacila para assumir as consequências de um destino.

De fato, dá para perceber que a história que encontramos em Duna não é assim tão diferente da trajetória de um herói clássico, embora exista uma proposta de desconstrução dessa “figura-guia”. A partir disso, acredito que o interessante se torna tudo o que cerca a história; A estética, o império, a fé religiosa, o planeta deserto, as especiarias e a construção visual de todo o universo que nos é mostrado. E quando o assunto é a construção de um espetáculo, aí, sim, estamos diante de uma obra de impacto.

Do ambiente estéril de Arrakis até a estética brutalizante dos Harkonnen, que parece ter inspiração direta no trabalho do artista suíço H. R. Giger, o longa cria um ambiente desconfortável e sublime.

Reconheço que o trabalho de adaptar Duna é um desafio colossal e o diretor consegue construir algo sólido em apenas dois filmes, no entanto, sinto que alguns pontos essenciais da obra foram abandonados em prol do espetáculo. Falar de Duna não é apenas falar de pirotecnia e cenas bonitas, afinal, no cerne da obra se encontram questões sobre ecologia, exploração, heróis messiânicos e por aí vai.   

Sinto que em partes o filme estava mais preocupado com a grandiosidade do que com o drama de fato, querendo sempre aumentar a dimensão das coisas sem deixar espaço para sutileza. O que, infelizmente, fragiliza todo o impacto visual em certos momentos. 

Outro ponto de destaque a ser percebido é a entrega do ator Timothée Chalamet, que, ao dar vida ao Paul Atreides, constrói um personagem imaturo, emotivo, embora com grandes habilidades devido à formação enquanto membro de uma família importante. 

Ao subir dos créditos, mesmo com todas as ressalvas, é difícil não se impactar com a grandiosidade da obra de Frank Herbert e a sua nova adaptação para o cinema. 

Deixe um comentário