GODZILLA E KONG: O NOVO IMPÉRIOO PACTO DO ENTRETENIMENTO

Por João Mendes

Lançar um novo filme envolvendo o Godzilla pouco tempo depois de Godzilla: Minus One ter triunfado ao retomar às origens mais densas do monstro radioativo em relação aos traumas da sociedade japonesa em ruínas através de um melodrama muito bem elaborado, e ainda por cima oferecer sequências dramaticamente grandiosas mesmo com um orçamento restrito, sobe a régua e exige que a nova produção estadunidense mostre valor e encontre vida própria diante da sombra de um sucesso que ainda paira. 

Ao analisarmos os últimos filmes envolvendo o universo de monstros gigantes, como Kong: Ilha da Caveira, Godzilla: Rei dos Monstros, e até mesmo o primeiro Godzilla vs Kong, encontramos uma travessia de muitos altos e baixos, já que boa parte dos filmes vacila, indeciso, entre não saber como desenvolver os núcleos humanos, que na maioria das vezes se tornam um empecilho para fruição da trama ao trazer protagonistas desinteressantes e dilemas pouco desenvolvidos, enquanto isso, ao mesmo tempo, não desenvolve o entretenimento catastrófico do embate entre criaturas colossais ao ponto de gerar empolgação. No final das contas, o que resta de lembrança recente é um gosto agridoce e um aglomerado de personagens enfadonhos numa trama que não assume o potencial que tem em mãos.

Mas, logo ao ver os trailers de Godzilla e Kong, percebe-se que a novo projeto está interessado em buscar outro caminho, uma abordagem mais lúdica, abraçando de uma vez o absurdo e o entretenimento visual. Mas a grande questão é: Será que o resultado deu certo?

A resposta só pode ser dada através de um pacto que o filme propõe com o espectador logo em seu começo, o que é sugerido pela montagem acelerada nos núcleos humanos e as primeiras aparições dos monstros. 

O pacto é o seguinte: Você está disposto a não pensar em grandes desenvolvimentos, histórias mega-coerentes, perdoar facilitações e apenas aproveitar uma boa rinha entre colossos em cenários estonteantes e coreografias que vão te fazer vibrar? Se a resposta for sim, seja bem-vindo ao show.

E nesse sentido a obra é coerente, afinal, do primeiro ao último segundo, o filme manterá o acordo com o espectador, sendo fiel ao absurdo que propõe.

Os dilemas humanos são rapidamente estabelecidos, nem a própria montagem ou o roteiro se demonstram interessados em desenvolver muita coisa, lançam no ar somente o básico para a história seguir em alguma direção. Os personagens são apenas caricaturas e pronto. Já em contraponto ao desenvolvimento humano, o longa está povoado por cenas de ação que presenteiam o público com uma enxurrada de referências fantasiosas que vão desde a aventura cientifica no estilo Julio Verne até sequências brutalizantes de ação que poderiam facilmente despontar num conto bárbaro de Conan, o cimério criado pelo Robert E. Howard que protagoniza histórias mirabolantes e violentas no gênero de espada e feitiçaria. Por exemplo, há uma plasticidade nos movimentos das lutas que sugere que o que realmente importa é o efeito, a adrenalina, e não a realidade, vemos criaturas imensas correr, pular, rolar… E é por isso que você vai ver um lagarto gigante correndo e golpeando como um lutador de MMA no auge da carreira, e sinceramente? Se você aceitou o pacto anterior, será incrível. 

E embora o filme tente desenvolver discussões sobre comunicação, identidade, cultura e até um pouco sobre colonialismo, é nos grandes embates que o filme está focado e busca sua razão de ser. Os monstros não servem para a evolução dos conflitos humanos, aqui os humanos servem apenas para possibilitar os embates. Personagens se deslocarão de uma distância para outra num tempo impossível e facilitações serão oferecidas a todo instante, porque tudo o que importa é o quanto um gorila consegue brandir um machado, e, repetindo, se o pacto está de pé, o filme te devolve a emoção que você investiu. É um filme que escorrega, bem longe de ser perfeito, mas que também nunca abandona o carisma.

Godzilla e Kong é um filme absurdo, cômico e chega até a ser inacreditável em certos momentos, e é aí que está a vantagem do filme. Ao contrário do que possa parecer com os comentários tecidos até então, não é por se tratar de entretenimento que os filmes devam recusar o razão e o bom desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, vindo de uma série de filmes que tentava abordar “emoções profundas” sem nunca alcançar o objetivo, ver o longa pesar a mão e seguir o caminho lúdico faz com que a experiência seja prazerosa, pelo menos para quem aceitou o pacto.

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