
Título: A Pequena Sereia (The Little Mermaid).
Direção: Rob Marshall.
Duração: 135 minutos.
Data de lançamento no Brasil: 25 de maio de 2023.
Origem: Estados Unidos da América.
Classificação: 10 anos.
Gênero: Fantasia; Musical; Drama.
Sinopse: “A Pequena Sereia é a adorada história de Ariel, uma bela e espirituosa jovem sereia com sede de aventura. A mais nova das filhas do Rei Tritão, e a mais rebelde, Ariel anseia por descobrir mais sobre o mundo além do mar e, ao visitar a superfície, se apaixona pelo elegante Príncipe Eric. Embora as sereias sejam proibidas de interagir com os humanos, Ariel deve seguir seu coração e, para isso, ela faz um acordo com a malvada bruxa do mar, Úrsula, que lhe dá a chance de viver em terra firme, mas acaba colocando sua vida – e a coroa de seu pai – em perigo. O longa é estrelado pela cantora e atriz Halle Bailey (grown-ish) como Ariel; Jonah Hauer-King (A Caminho de Casa) como o Príncipe Eric; o vencedor do Tony Award® Daveed Diggs (Hamilton), que empresta sua voz a Sebastião; Awkwafina (Raya e o Último Dragão) como a voz de Sabidão; Jacob Tremblay (Luca), dando voz a Linguado; Noma Dumezweni (O Retorno de Mary Poppins) como a Rainha Selina; Art Malik (Homeland) como o Sir Grimby; com o vencedor do Oscar® Javier Bardem (Onde os Fracos Não Têm Vez) como o Rei Tritão; e a duas vezes indicada ao Oscar® Melissa McCarthy (Poderia Me Perdoar?; Missão Madrinha de Casamento) como Úrsula.”
Mas uma sereia não tem lágrimas e, portanto, ela sofre muito mais.
Hans Christian Andersen
É com essa citação, e registros de um mar revolto, que a adaptação em live-action (2023) do clássico “A Pequena Sereia” começa. Embora seja um trecho famoso do conto original, escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, eu ainda não conhecia; então quando apareceu o trecho em tela, não pude deixar de anotar, fascinada. Achei o texto bonito, dramático… e, já adiantando um pouco as minhas impressões sobre o longa: há momentos em que a Ariel realmente está triste, no fundo do mar, mas não há lágrimas aparentes, o que me lembrou o tempo todo do início do filme, causando maior impacto na minha experiência. Senti a angústia da personagem pela belíssima interpretação da Halle Bailey, sim, mas ter tido acesso à frase já no começo do filme, deixou ainda mais intensa essa minha percepção.
A versão de Rob Marshall, que será lançada mundialmente em 25 de maio de 2023, tem quarenta minutos a mais que a animação de 1989, e esse tempo extra permite que conheçamos um pouco mais sobre o príncipe Eric (Jonah Hauer-King) e vejamos uma construção mais gradual e fluida do relacionamento do humano e a sereia.
Ariel (Halle Bailey) segue sendo uma adolescente rebelde, curiosa e apaixonada pelo desconhecido mundo dos humanos; o Rei Tritão (Javier Bardem) continua sendo o pai protetor e severo, que proibe as filhas de irem à superfície do mar, por medo de que elas sejam machucadas pelos humanos, assim como aconteceu com sua esposa, que faleceu num ataque de um homem, anos antes do período retratado na história. É compreensível a proteção do pai, mas também é possível entender a curiosidade extrema da filha mais nova do rei dos mares. Curiosidade essa que a coloca em grandes apuros.
Como era já esperado, por conta dos trailers, há uma grande diversidade étnica no filme: cada filha do Rei Tritão é de uma localidade no oceano, portanto, elas têm características físicas distintas entre si. Porém, não só os seres marítimos chamaram a minha atenção – na corte do castelo há também uma diversidade bacana de atrizes e atores: ao contrário da animação, em que não conhecemos os pais do príncipe, no live-action a Rainha Selina (Noma Dumezweni) aparece belamente, como uma mãe também protetora e cuidadosa do jovem, que foi vítima de um grande naufrágio e adotado pelo rei e rainha daquele reino.
Há cores vibrantes nas redondezas do castelo; e comidas, pessoas e ritmos que me lembraram muito culturas da América Latina. Eu gostei de como essas características diferentes foram inseridas no filme de maneira natural e divertida. Há, inclusive, uma menção ao Brasil, em um momento específico da história.

Há uma grande comoção, desde a primeira adaptação da narrativa, em 1989, em relação à atitude da Ariel de ter deixado de ser quem era por conta de um homem que ela mal conhecia, e esse fato ficou melhor ajustado na versão de 2023: a personagem se mostra encantada pela Terra e por conhecer humanos desde muito antes de conhecer o jovem príncipe (normal, Lorena, isso também está no desenho), a diferença é que quando ela finalmente consegue pernas, o foco dela é conhecer o máximo possível de coisas e lugares no reino terrestre: ela se perde do Eric, prova comidas, sai dançando no meio de estranhos, vai correndo observar cada detalhe… é muito divertido de ver. Ainda sobre o sacrifício da sereia: há também coisas diferentes no acordo que a jovem faz com sua tia Úrsula (Melissa Ann McCarthy), a bruxa dos mares; mas eu estou dando tantas explicações aqui, que vou deixar para você descobrir mais coisas quando for assistir. (Rs)

No longa, acompanhamos gradativamente a aproximação entre Eric e Ariel: trocas de saberes, percepção de gostos em comum, o desejo por conhecer novas pessoas e lugares longínquos… e ver a construção de afeto dessa maneira deixou o romance da história mais verossímil e foi gostoso de acompanhar e torcer para que eles ficassem juntos.
Além das cores, diversidade, mudanças sutis no enredo, preciso pontuar que a trilha sonora do filme está belíssima. Composta por Alan Menken, as músicas trazem novas roupagens de canções clássicas, queridas por quem assistiu a animação em 1989, como por exemplo: “Under the Sea” e “Kiss the Girl“. Essa, que recebeu uma pequena alteração que fez toda diferença, a meu ver: alterando a parte “Nem pergunte a ela / Pois não vai falar, só vai demonstrar / Se você a beijar” ♪ por “Se duvida, pergunte / Este é o sinal, é a noite ideal / Agora é só beijar” ♪ . Com discussões tão importantes sobre respeito e combate a assédios sendo levantadas frequentemente, é essencial que a insinuação original tivesse sido alterada.
Apesar dos muitos acertos, houve uma problemática que foi mantida no filme, infelizmente: a gordofobia. Há dois pontos que acho importantes de citar: 1. não há personagens gordos no filme, além da vilã, Úrsula; seres do mar, realeza, serviçais… todos estão dentro daquele padrão magro tão conhecido como “o belo”. E me incomodou mais ainda o fato de 2. Úrsula se tornar bastante magra (com interpretação da atriz Jessica Alexander) quando humana (que é quando ela é apresentada como bela). Para mim, não existe motivo para tal mudança e, embora tenha gostado muito do filme, fiquei com essa crítica aqui, recorrente em reflexão.
Finalizo meu texto confirmando que gostei muito da adaptação, e que Halle Bailey como protagonista foi um grandessíssimo acerto: ótima atuação, voz… belíssima! Eu fiquei encantada em ver uma princesa negra nas telonas… imagino o quanto as crianças pretinhas vão se fortalecer e encantar também.
Depois de assistir, me conta o que achou? Vai ser bacana conversar sobre 😉